A Máxima deste mês (sim, porque uma pessoa não pode só ler a Foreign Affairs e a The Economist) traz uma entrevista com Ana Lopes, uma antropóloga portuguesa que, na sequência da tese de doutoramento, conseguiu criar no Reino Unido um sindicato para profissionais da indústria do sexo. Não me interessa aqui discorrer sobre as virtudes da ideia, não vá alguém lembrar-se que isto é mais uma questão fracturante, que dessas já o país está cheio.
Interessou-me sobretudo esta ideia:
Este livro, além de subversivo, é interpelador. Uma ideia-base é a de que os trabalhadores do sexo não querem ser salvos, querem é ter direitos iguais aos dos outros trabalhadores.
As pessoas que estão em condições aberrantes não querem ser salvas da prostituição, querem ser salvas de todo o tipo de abusos: das teias de máfias criminosas, de relações violentas, de um problema de toxicodependência. Existe um mundo de problemas associados à indústria do sexo: são esses que devem ser resolvidos. O facto de trabalharem na indústria do sexo não é o problema em si. É uma mínima parte da indústria do sexo que está em condições de semi-escravatura.
A ideia corrente é a contrária: que aqueles que podem escolher são uma parte irrisória.
Conheci pessoas que trabalham nesta indústria que têm cursos universitários, mestrados, que já tiveram outro tipo de carreiras e optaram pela indústria do sexo. Também não acho que isso seja a maioria. A grande maioria podemos compará-los àqueles que fazem trabalho não-qualificado.
A defesa dos direitos dos indivíduos enquanto cidadãos, iguais a todos os outros, parece-me muito mais interessante, saudável e legítima do que a defesa pela vitimização, a cultura do coitadinho que agora se usa e abusa em relação a tudo e a todos.
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