Como eu já tinha dito aqui, tudo se passa right next door, mas não em Tel Aviv. Desta vez é em Jerusalém.
Israel decidiu começar obras de construção de uma ponte de acesso à Esplanada das Mesquitas, terceiro lugar sagrado do Islão. Os muçulmanos receiam que as escavações danifiquem as fundações das mesquitas e, em consequências, que estas venham a baixo. A teoria da conspiração (que está sempre presente nestas coisas) diz que os judeus querem mandar a baixo as mesquitas para começarem a preparar o terceiro Templo que é suposto que seja no mesmo local (daí o Muro das Lamentações, que é parte do Templo anterior, estar na parte de baixo da Esplanada das Mesquitas). Por aqui se percebe logo a gravidade da questão e o porquê deste conflito parecer não ter fim à vista.
Ora, eu não acredito nas "más intenções" israelitas nem em teorias da conspiração. A ponte que agora existe é de madeira e acredito que realmente precise de ser substituída. Mas é precisa muita insensibilidade ou, agora sim, outras intenções para começar as obras sem coordenação com as autoridades religiosas islâmicas, sabendo que a questão é demasiado sensível, que é tempo de negociações políticas e que foi a visita de Ariel Sharon à Esplanada das Mesquitas que fez "estourar" a II Intifada. Claro que não foi só esta visita que causou a violência, mas em momentos de tensão, qualquer atitude mais simbólica pode despoletar a violência e Sharon sabia disso.
O mundo árabe, que nunca aceitou a anexação de Jerusalém oriental (como aliás ninguém na Comunidade Internacional, nem sequer os EUA), já apelou ao fim dos trabalhos e vai recorrer ao UNSC. As críticas, no entanto, não vêm só de muçulmanos. Vários deputados, generais, polícia e até o Ministro da Defesa israelita já pediram a interrupção das escavações, por causa dos efeitos negativos que isto pode ter para a paz. Porque todos, sem excepção, sabem quais podem ser as consequências.
Quem ler nas minha palavras qualquer tipo de sentimento anti-israelita só porque eu acho pouco inteligente esta medida, mais do que a mim, está a subestimar a democracia israelita. Israel tem vários partidos com assento parlamentar, os governos nunca se fazem com uma coligação de menos de quatro ou cinco partidos e raramente duram mais de ano e meio, a sociedade civil é das mais dinâmicas que conheço e dela emergem inúmeras ONGs. Esta é a prova de que não há pensamento único em Israel e que, portanto, criticar decisões do governo não significa criticar o país e muito menos o povo. Porque este povo é feito de indivíduos que pensam pela sua cabeça. É feito de individuos que merecem todo o respeito.
P.S.: Até me esqueci de dizer que, antes destas obras, havia já umas escavações arqueológicas na zona que estavam a dar polémica, pelo que era de prever que isto fosse dar confusão. A decisão de começar os trabalhos agora não me parece ter tido nada de inocente e misscalculation.
2 comentários:
Bom texto, Susaninha :)
Nada a acrescentar
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Continua uma esquerdista disfarçada do oposto, não é Susana? Brincadeirinha.
Adorei seu texto. Alguns dizem que tudo que nossas autoridades precisam é bom-senso. Eu até acho que bom-senso muitos tem, o problema é que eles raramente se dão a chance de pensar duas vezes...
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