segunda-feira, dezembro 11, 2006

Presumível implicada

Quando eu fui estudar para Lisboa, os que não me conheciam presumiram que eu não tinha conseguido entrar na Universidade de Coimbra. A média de entrada no meu curso em Lisboa era 17, em Coimbra 15.
Quando eu vim para Israel, alguns presumiram que eu tivesse cá família. Não conhecia absolutamente ninguém. Outros presumiram que o estágio fosse remunerado. Saiu tudo do bolso dos meus pais. Alguns presumiram que eu tivesse uma ganda cunha. Provavelmente porque presumem que ficar sentado no sofá à espera das cunhas dá mais resultado que passar dias e dias na internet à procura de estágios, a enviar mails e esperar por respostas que nunca chegam. E todos presumiram que eu estava era doida da cabeça por vir para Israel!
Muitos presumem que, por ser mulher, não gosto de futebol. Vi quase todos os jogos do mundial.
Outros presumem que, por ser do sul da Europa, sei danças latinas. Até levarem uma valente pisadela aqui da pata choca.
Alguns presumem que, por ser portuguesa, gosto de samba. Ora aqui está uma presunção do tamanho do Atlântico.
Aqui, há quem presuma que venho dos EUA. Chegam mesmo a ser precisos: Let me guess, you come from NY? Não, venho de Portugal. Alguns ainda assim não se deixam vencer e insistem que eu já devo ter vivido nos EUA. Não, nunca lá fui. Mas que raio de ideia!
Certos meninos presumem que, por eu tomar a pílula, não preciso de usar preservativo. Meus caros, a pílula é para as borbulhas e o preservativo para as doenças.
Há quem presuma que, por eu viver no estrangeiro e não querer voltar para Portugal, não sinto falta da família e dos amigos. Não sabem que não se trata de não sentir, mas de saber viver com as saudades.
Muitos presumem que, por eu defender a liberalização do aborto, das drogas leves e do casamentos de homossexuais, sou de esquerda. Cruzes canhoto!
Alguns presumem que sou pró-israelita, outros que sou pró-palestiniana. Eu não sou pró nada, estou cada vez mais do contra!
Nas minhas viagens, já presumiram que eu era espanhola, italiana, francesa, argentina, libanesa e até israelita (neste dia vi o caso mal parado e achei que ia ser linchada em plena medina de Casablanca).
Perante tudo isto, eu respiro fundo, sorrio e digo Olhe que não, olhe que não...

4 comentários:

Anónimo disse...

Presunção e água benta cada um toma a que quer

Tauro disse...

Presunção e água benta cada um toma a que quer

Unknown disse...

Susaninha, eu que nunca pensei que te conheci por não teres tido média para entrar em Coimbra, penso que tudo o que te referes obedece a mais um síndrome: o síndrome do jovem estudante português que se vê quase obrigado a aventurar-se pelo estrangeiro para alcançar os seus sonhos.

Também fui presumida de muita nacionalidade, mais comummente por espanhola, anglo-saxonica e a mais original que me disseram foi Madagáscar!! Em França, presumiram que por ser portuguesa tinha que falar mal como as consièrges, que por ser latina tinha que saltar em cima de um gajo assim logo à primeira, que por andar de um lado para outro tenho que ser rica! E olhe que não, é certo que os meus pais fazem sacrifícios pela minha educação mas a verdade é que se uma pessoa luta pelas coisas, as oportunidades aparecem, poupa-se aqui e ali, gastos só para o essencial e uma pessoa pode ir à conquista dos sonhos. Fácil, não não é, mas também não é o bicho de sete cabeças... financiar-se é difícil quando não se tem apoio admito, mas há alternativas a baixar os braços.

Susanita, desculpa pelo comentário tipo testamento mas o teu post soa-me tão familiar que me inspirou.

Su disse...

Chimaera,
Mi blog, tu blog. Todos podem ocupar o espaço que quiserem!
Percebo perfeitamente o que dizes, se bem que eu nunca me senti obrigada a ir para o estrangeiro. Ir para fora é que sempre foi o meu sonho. Felizmente temos pais que mais do que ricos (que não são), são open-minded e dispostos a ajudarem à concretização dos sonhos.
E já reparaste que as pessoas que presumem que somos ricas por andar a viajar são aquelas que normalmente têm tlm de última geração e um bom carro à porta?
Prioridades, minha gente, prioridades...