quinta-feira, dezembro 14, 2006

Irresponsabilidades

Há pelo menos mês, mês e meio que tenho visto em vários meios de comunicação portugueses e israelitas (e acredito que noutros países se passe o mesmo), a repetição de uma notícia que dá conta de um estudo realizado que demonstra que os homens circuncidados correm menos riscos de contrair o vírus da SIDA. O director de um dos institutos envolvidos na investigação afirma até que "Os resultados são de um grande interesse para as políticas de saúde pública e para as que põem em marcha programas generosos de prevenção contra a Sida". Outro investigador, mais cauteloso, adverte: "É muito claro que isto não é um substituto [de uma protecção] mas apenas mais uma". No entanto, dada a publicidade que esta descoberta tem tido não me parece que seja a mensagem deste último que terá mais impacto, mas sim a do primeiro.
O estudo foi realizado em África e é aí que se pretendem aplicar as tais "políticas de saúde pública", inspiradas por este estudo. Eu não duvido da veracidade dos resultados da investigação, mas acho profundamente irresponsável a forma como estão a ser publicitados. Num continente onde factos se misturam com crenças, onde os mitos se espalham à velocidade da luz, onde muita gente pensa ainda que se tiver relações sexuais com virgens fica curado da SIDA e onde até já bebés foram violados à conta desta "verdade", parece-me que não será difícil ver, no futuro, milhares, senão milhões, de homens a quererem ser circuncidados. Talvez até com os mesmos métodos e condições higiénicas com que é praticada a excisão a milhões de mulheres, no mesmo continente. E depois claro, já se sabe, nunca mais precisarão de usar qualquer outro método de protecção mais seguro. Afinal, já estão circuncidados!

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