segunda-feira, novembro 06, 2006

Ninguém tem mão neles



Será uma imagem de Damasco depois da polémica dos cartoons dinamarqueses? Não. Será de Nablus depois das palavras do Papa? Não. É Jerusalém, ontem à noite, depois de ter sido autorizada a Parada Gay na cidade. Os judeus ultra-ortodoxos juntaram-se num protesto contra a Parada, que degenerou nisto. Ruas cortadas, contentores do lixo e pneus queimados, mais de vinte judeus Haredi presos.

A Parada Gay costuma realizar-se em Tel Aviv, a cidade onde tudo é permitido e onde os homossexuais podem assumir-se sem problemas. É vê-los à sexta feira à tarde a desfilar pela Sheikin e a Dizengoff, as ruas mais fashion. Mas, desde o ano passado, a organização resolveu que a marcha deve realizar-se em Jerusalém. E bem.

Jerusalém tem estatuto de cidade internacional pela importância que tem para as três religiões monoteístas. É, aliás, o centro da discórdia deste conflito. Em 1967, depois da Guerra dos Seis Dias, Israel anexou unilateralmente Jerusalém oriental que, na altura estava sob o domínio jordano, e que é reivindicada pela Autoridade Palestiniana (até porque ainda lá vivem centenas de milhares de palestinianos). Desde então e à revelia da Comunidade Internacional, que apenas reconhece Tel Aviv como capital (daí as embaixadas estarem aqui), o governo israelita considera Jerusalém como a capital eterna e indivisível do país e aí estabeleceu todas as instituições estatais, como o parlamento.

Ora, se Jerusalém é para os israelitas a capital do país, então todos os cidadãos, sem excepção, terão direito a manifestar-se na sua capital, em frente às instituições que querem pressionar. Será provocação? Será, sem dúvida. Mas a provocação faz parte da liberdade de expressão, num país que tanto se diz democrático e de cariz ocidental.

Parece que há muito boa gente que ainda não compreendeu isto. Quando a Parada se realizou o ano passado, três pessoas foram esfaqueadas por um judeu ultra-ortodoxo. Este Verão, quando foi novamente marcada para Jerusalém, circularam pela cidade flyers que davam uma recompenda de 2000 shekels (mais ou menos 350 euros) por cada gay morto. Pela primeira vez, as três religiões que, como se sabe passam a vida em guerra, uniram-se no protesto contra a Parada.

Afinal, o desrespeito pela diferença, a ignorância e a violência não são exclusivo dos fundamentalistas islâmicos. Há, por aí, muito fundamentalismo de outras religiões.

1 comentário:

JFFR disse...

Triste... o fundamentalismo é igual em todas as religiões.