terça-feira, agosto 14, 2007

That kind of girl

Há dias ouvi alguém dizer "I'm not that kind of girl", sendo que esse "kind of girl" significava uma rapariga que dorme com o rapaz logo na primeira noite.
É curioso que, mesmo dizendo-se modernas e independentes, estas mulheres são as primeiras a fazer o comentário machista e a deitar a baixo qualquer luta feminista. Nunca eu conheci um homem que fizesse este tipo de comentários ou que desrespeitasse uma mulher por ela ter dormido com ele na primeira noite. Se calhar são até as mesmas que, com um tom acusador e dedo espetado contra o seu interlocutor, dizem aquela frase mais que batida "Um homem que tem muitas parceiras é um garanhão e uma mulher na mesma situação é uma puta", esquecendo-se que são elas próprias as primeiras a discriminar.
Curioso é também que, por vezes, esta frase tão afirmativa é usada ou no banco de trás do táxi, entre um beijo escaldante e outro, a caminho de casa dela, ou já na manhã seguinte, antes que ele se vá embora e não lhe peça o número de telefone. "I'm not that kind of girl, you know?". He knows, he knows, claro que sim, ela não é desse tipo, não, nunca faria uma coisa dessas, ele é que é especial, ela olhou para ele no meio do bar e, entre um shot de whisky e uma vodka limão, achou que ele era diferente, digno de um comportamento tão leviano por parte dela, claro que sim, isso e os bebés virem de cegonha.
Ainda sobre isto alguém me dizia que se dormisse com alguém na primeira noite não podia estar à espera de ter uma relação séria com essa pessoa. E se não dormir, pode? Poder-se-à decidir, na primeira noite, depois de poucas horas de convívio, que se quer ter uma relação séria com a outra pessoa? Tenham paciência.
Não que eu defenda que agora toda a gente saia por aí a dormir com estranhos a torto e a direito, mas o "that kind of girl" implica um juízo de valor bastante pejorativo em relação a quem o faz. E quem o faz pode fazê-lo a torto e a direito ou não. O ritmo de uma relação ou de uma não-relação deve ser marcado apenas pelo indivíduo e o casal e não pela moral alheia.

5 comentários:

Filipa disse...

Tantas coisas bem ditas num pedacinho de texto. Gostei miúda!

Anónimo disse...

AMEN to that! especialmente a conclusão...

Estou de acordo com muitas coisas nesse texto, sobretudo o juízos e os apontar de dedos hipócritas. Admito que é sempre difícil livrar-se de um certo conservadorismo cultural ou social, no entanto pode-se sempre guardá-lo para as suas escolhas e não servir-se dele para criticar histórias alheias das quais uma pessoa nunca pode estar consciente do que é que se trata ou deixa de tratar.

Sapinho disse...

De tempo a tempo (nunca demasiado!) colocas tanto senso-comum no teu discurso que chega a tornar-se-me redundante! ;)

Thomaz Napoleão disse...

Concordo em genero, numero e grau. O resultado da primeira noite nao tem nada (nada!) a ver com a qualidade do relacionamento.

E o comentario sobre o garanhão e a puta fez-me lembrar daquela famosa piada que tanto circula por email...

MiSs Detective disse...

o machismo existe porque as mulheres o permitiram e continuam a permiti-lo