Domingo. Dia Santo. Deu-se milagre: antes da sete da manhã já eu estava levantada para ir turistar por aí. Plano: ir a Haifa, onde existe um templo Bahai, uma religião que reúne as personagens importantes das outras religiões, de Moisés a Buddha, passando por Jesus e Maomé, e os considera a todos profetas bahai (abstenho-me de comentar).
Chegada a Haifa, a fome começou a apertar, que o corpinho não está habituado a levantar tão cedo, ressente-se, coitadinho. Mulher prática que sou, resolvi pôr-me a andar em direcção ao tal templo, até porque aquilo era num monte bem alto e ia levar tempo a chegar lá. No caminho, pararia num café. Só que a terceira maior cidade de Israel, que se orgulha de tanto trabalhar ("In Jerusalem you pray, in Tel Aviv you play, in Haifa you work"), não tem cafés! Restaurantes de falafel e shwarma a tresandar a fritos logo às nove da manhã é aos pontapés! Cafezinho com croissant, nem vê-lo! Isto, a juntar às subidas íngremes da cidade, ao calor que já fazia e ainda não eram dez da manhã e às gotas de suor que já me escorriam pela testa e costas, não augurava nada de bom.
Sem croissant e ainda enjoada com o cheiro da falafel, lá avistei a entrada dos jardins do templo. O segurança que estava nos portões vem ter comigo e diz-me que aquilo é um lugar santo e por isso eu não podia entrar com os ombros à mostra. " Mas eu não tenho os ombros à mostra, até tive o cuidado de escolher esta t-shirt exactamente por causa disso" - pensei eu na minha ingenuidade. Qual quê! Estavam ali dois dedos de pele a descoberto que enlouqueciam Deus! O facto da t-shirt ser um pouco curta e desnudar parte da minha barriga não importava, mas aquele pedaço de pele, ali na fronteira entre o ombro e o braço era demasiado erótico e poderia perturbar o Senhor lá de cima que, ao que parece, tudo sabe e tudo pode, mas que só deve ver a pouca vergonha de um ombro semi-desnudado quando este lhe aparece às portas do jardim. Aí, Deus fica que nem pode! Terá medo de cair em tentação e não ter ninguém a quem recorrer para O livrar do mal?
Este pessoal mata em nome de Deus (e não são só os muçulmanos!), homens, mulheres e crianças, estropiam-se uns aos outros sem piedade, é só sangue e tripas de fora, mas um ombro à mostra... vade retro santanás... mulher perdida na vida!
Ainda fui procurar uma loja para comprar um lenço que cobrisse o ombro do pecado (e um café aberto... sim, ainda), mas claro, numa cidade onde não se encontra um sítio para tomar o pequeno-almoço, também não se há-de encontrar uma loja que venda lenços.
Conclusão, fui-me embora. Do templo bahai e de Haifa.
No fundo, acho que isto foi um sinal de Deus a dizer "Lá por estares na Terra Santa, não te entusiasmes que Eu não quero nada contigo". Pois, o Senhor que não se preocupe que o sentimento é mútuo.